Sento-me aqui, uma vez mais, sozinha. Pernas cruzadas, olhar distante, preso para lá do horizonte enevoado, carregado de cinzento.
O azul do céu perdeu-se entre as nuvens e os raios do sol desfazem-se em gotas de chuva fria, límpida, reconfortante.
As ruas estão desertas, silenciosas e vento ruge pela sombra.
O gotejar invade-me o pensamento e deixo de ser mente. Sou só corpo. Um corpo oco, vazio de ideias ou opiniões, de dores ou emoções.
Esqueço tudo. Liberto as indecisões, a falta de sentido.
Agora sou só isto. Um invólucro cheio de nada. Um ser despido de expectativas, de vontades vãs e sem sentido.
Porque é isso que hoje quero ser.
Quero arrancar este coração. Ser livre da sua vontade por uma vez. Ser feliz sem procurar amar, sem procurar ser amada.
Quero encontrar o caminho através desta neblina húmida.
Sento-me aqui, uma vez mais. Fitando o horizonte, procurando um equilíbrio, tentando esquecer o que me faz falta por entre as gotas que caiem, tentando ignorar o vazio que me faz agora companhia.